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    1964: História do Regime Militar Brasileiro

    Por Marcos Napolitano
    Existem 15 citações disponíveis para 1964: História do Regime Militar Brasileiro

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    Exatos cinquenta anos atrás, o Brasil mergulhou em uma ditadura que iria perdurar por mais de duas décadas. É chegado o momento de fazer um balanço histórico do regime militar. Marcos Napolitano, conhecido historiador da USP, discute neste livro sólido e bem escrito as principais questões desses ?anos de chumbo?. A ditadura durou muito graças ao apoio da sociedade civil, anestesiada pelo ?milagre? econômico? Foi Geisel, com a ajuda de Golbery, o pai da abertura, ou foi a sociedade quem derrubou os militares do poder? Como era o dia a dia das pessoas durante o regime militar? Como a cultura aflorou naquele momento? O que aconteceu com a oposição e como ela se reergueu? Qual a reação da sociedade (e do governo) à tortura e ao ?desaparecimento? de presos políticos? Obra de historiador, livro obrigatório para quem quer compreender o Brasil, uma síntese brilhante.
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    Citações de 1964: História do Regime Militar Brasileiro

    A modernização capitalista no Brasil, ao invés de acabar com os velhos problemas sociais no campo, acabou por agravá-los.

    O pronunciamento dos coronéis de 1954 era o prenúncio dos generais golpistas de 1964.

    O AI-2 pode ser visto como a passagem do governo que se considerava transitório para um regime autoritário mais estruturado.

    Defendo a interpretação de que em 1964 houve um golpe de Estado, e que este foi resultado de uma ampla coalizão civil-militar, conservadora e antirreformista, cujas origens estão muito além das reações aos eventuais erros e acertos de Jango. O golpe foi o resultado de uma profunda divisão na sociedade brasileira, marcada pelo embate de projetos distintos de país, os quais faziam leituras diferenciadas do que deveria ser o processo de modernização e de reformas sociais.

    Na lógica particular da classe média brasileira, a ascensão dos “de baixo” é sempre vista como ameaça aos que estão nos andares de cima do edifício social.

    “A mais nobre manifestação cultural da fome é a violência […] o Cinema Novo, no campo internacional, nada pediu, impôs-se pela violência de suas imagens […] pois através da violência o colonizador pode compreender, pelo horror, a força da cultura que ele explora”.

    Outra opção, estimulada pela ditadura para atenuar as tensões e demandas no campo, era estimular a migração para regiões de fronteira agrícola, como a Amazônia, onde o braço humano, o chamado “capital-trabalho”, derrubava as árvores e preparava o caminho para a “integração” e o “progresso”.

    O golpismo de direita, liberal ou autoritária, nunca aceitou o voto popular, o nacionalismo econômico, a agenda distributivista, a presença dos movimentos sociais de trabalhadores. A tudo isso, chamava de populismo e subversão. Enfim, o golpismo da direita nunca aceitou a presença das massas seja como eleitoras ou como ativistas de movimentos sociais, na Quarta República brasileira, a “República de 46”. O golpe de 1964 não foi apenas contra um governo, mas foi contra um regime, contra uma elite em formação, contra um projeto de sociedade, ainda que este fosse politicamente vago.

    Os liberais, em seus diversos matizes – de pragmáticos a doutrinários, de fisiológicos a oligarcas, de centro e de direita –, articularam e apoiaram o golpe, salvo honrosas exceções.102 A grande imprensa, os grandes empresários e suas associações, os políticos udenistas, velhos inimigos do trabalhismo e do getulismo, profissionais liberais, foram peças importantes na conspiração contra Goulart. Na euforia da vitória, até as raposas do PSD esqueceram sua dobradinha histórica com o PTB e abriram caminho para o golpe, e, pior, para a legitimação do regime, elegendo seu primeiro presidente no Congresso.

    As pressões da direita militar pelo expurgo radical dos políticos “populistas” não se contentavam com a erradicação da ala esquerda. Políticos moderados e conservadores também eram alvos de suspeita dos militares, cujo autoritarismo messiânico e patriótico se combinava com a visão moralista de que os civis no governo eram visceralmente corruptos.

    Quando examinamos a lista de mortos e desaparecidos pela ditadura, notamos um dado inovador na história brasileira. Via de regra, as repressões a revoltas armadas no Brasil eram ferozes com os de baixo e moderadas com os de cima. A prisão e o exílio eram reservados às lideranças rebeldes vindas da elite ou das classes médias superiores.

    A preocupação em qualificar o censor, um técnico policial limitado que se via como intelectual vigilante, tornou-se ainda mais obsessiva por parte do governo, quando descobriu-se que Antonio Romero Lago, o todo-poderoso chefe do Serviço de Censura que velava pela ordem e pelos costumes, era Hermenildo Ramirez de Godoy. Para complicar, além de falsificar o currículo, ele era um falsário e assassino, fugitivo da justiça havia mais de vinte anos, pois mandara matar dois homens no Rio Grande do Sul. As trapalhadas da censura incluíam a proibição do livro O cubismo, supostamente uma propaganda de Cuba, ao mesmo tempo que liberava a música Apesar de Você de Chico Buarque, à primeira vista uma inocente canção contra uma namorada megera.

    Quando olhamos para alguns dados isoladamente, o saldo repressivo do governo Geisel não autoriza falar em democracia ou mesmo em distensão: durante seu governo houve 39 opositores desaparecidos e 42 mortos pela repressão. A censura à imprensa, às artes e às diversões foi amplamente utilizada, abrandando-se somente em meados de 1976; o Congresso foi fechado durante 15 dias.

    Em 1995, FHC, seu opositor nos tempos da ditadura, lhe prestou homenagem em um almoço no Palácio das Laranjeiras. Com sua morte, decretou-se luto de oito dias.

    Nas guerras sujas das ditaduras contra seus dissidentes, a tortura e o extermínio de prisioneiros provocam, inicialmente, o efeito contrário: o silêncio. Silêncio dos torturados que não querem ou não podem lembrar de situações de humilhação e dor extrema. Silêncio dos mortos e desaparecidos que já não podem narrar sua dor. Silêncio da sociedade que sabe, por medo ou conivência. Acreditavam os militares que o silêncio seria a primeira etapa do esquecimento, do apagamento da memória e da história das cisões que ameaçavam cindir a sociedade. Para aqueles que teimavam em falar, em denunciar, em plena vigência do terror de Estado, este lhes reservava mais repressão ou, simplesmente, o descrédito.

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