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    A capital da vertigem

    Por Roberto Pompeu de Toledo
    Existem 10 citações disponíveis para A capital da vertigem

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    Neste panorama monumental de São Paulo, surge uma cidade que deixa a condição de vila e se impregna com a fuligem das chaminés, o vapor das fábricas e a fumaça dos automóveis.
    Após reconstituir em A capital da solidão a história de São Paulo das origens a 1900, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo narra em A capital da vertigem sua arrancada rumo à modernidade. Eis uma cidade que deixa a condição de vila e se torna a maior metrópole do país. É a capital da vertigem: vertigem artística, industrial, demográfica, social e urbanística.
    Neste painel que vai do início do século XX a 1954 ? quando a cidade completa quatrocentos anos ?, aparecem personagens como Oswald e Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Washington Luís, Prestes Maia, e Francisco Matarazzo, e surgem episódios que vão da Semana de Arte Moderna de 1922 à epidemia de gripe espanhola, da Revolução de 1924 à chegada do futebol ao país.
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    Citações de A capital da vertigem

    Enfim, em novembro de 1898, foi aprovada a lei municipal n. 374, criando os cargos de prefeito e vice-prefeito, a serem escolhidos pelos vereadores entre seus pares.

    No segundo censo nacional, de 1890, a população dobrou — 64 934. Numa contagem promovida pelo governo do estado em 1893, apenas três anos depois, dobrou de novo — 130 775. E no terceiro censo nacional, em 1900, tinha 239 820 habitantes. Já era a segunda cidade brasileira, atrás apenas do Rio de Janeiro.

    Falta dizer que São Paulo era uma cidade de maioria estrangeira. Já um levantamento realizado em 1893 pela recém-criada Repartição de Estatística e Arquivo do Estado apontava, entre os pouco mais de 130 mil habitantes da cidade, um percentual de 54,6% de estrangeiros contra 45,4% de brasileiros.

    Nasceu assim, a 7 de abril de 1899, a The São Paulo Railway, Light and Power Co. Ltda,

    Antônio Prado simboliza três transições do paulista em direção ao futuro: (1) a do fazendeiro do Vale do Paraíba para o fazendeiro do Oeste paulista; (2) a do fazendeiro para o empresário; e (3) a do homem rural para o urbano.

    Na noite de 1º de setembro de 1910 deu-se um daqueles fatos que, à época pequenos e humildes, com os anos adquirem enorme significado. Numa esquina da rua dos Imigrantes, mais tarde renomeada José Paulino, bairro do Bom Retiro, reuniram-se, finda a jornada de trabalho, treze homens decididos a fundar um clube de futebol. Entre eles havia um pintor de paredes, um sapateiro, um motorista, um fundidor e um macarroneiro. Ali na rua mesmo, à luz do lampião, sacramentaram a decisão e iniciaram as discussões sobre os estatutos da nova agremiação. As próximas reuniões se deram no salão de barbeiros de Salvador Bataglia, na rua dos Italianos esquina de Júlio Conceição. Na primeira assembleia-geral, elegeu-se a diretoria e pôs-se em discussão o nome do clube. A presidência ficou com o alfaiate Miguel Bataglia, irmão do barbeiro Salvador. Quanto ao nome… “Santos Dumont”, sugeriu alguém. Outro, no mesmo veio de invocação dos heróis da pátria, pensou em “Carlos Gomes”. Mas as cabeças estavam todas tomadas por uma maravilha que ocorria naqueles dias: as exibições em São Paulo do famoso time inglês Corinthian Football Club. O Corinthian, formado basicamente por estudantes das universidades de Oxford e Cambridge, viera a convite do Fluminense, do Rio, e ali arrasara três adversários brasileiros por 10 a 1, 8 a 1 e 5 a 2. Em São Paulo, venceu o Palmeiras (um outro, não o que no futuro teria o mesmo nome) por 2 a 0, um combinado local por 5 a 0 e o São Paulo Athletic por 8 a 2. O Corinthian era chamado nos jornais de Corinthian’s team. Foi assim que na versão brasileira ganhou um “s” e virou Corinthians. Era mais um das dezenas de clubes de bairros que surgiam a cada ano para jogar na várzea. Com os primeiros 6 mil réis arrecadados os corintianos compraram sua primeira bola — numa loja da rua São Caetano — e o primeiro jogo ocorreu no dia 10 de setembro — perderam para o União da Lapa por 1 a 0. Nos anos seguintes acumularam-se vitórias e em 1913 ingressaram na Liga, c

    Importa por ora incluir mais um ingrediente, e dos mais importantes, no caldeirão de que cuidamos neste capítulo: as mulheres. A ordem de sair às ruas valia também para elas, com uma diferença: se para os homens sair às ruas era simples decorrência de maiores atrativos para tal, para as mulheres foi uma conquista. Não para todas, nem em todas as horas, nem em todos os lugares. E, de preferência, não sozinhas — melhor na companhia de outras mulheres, ou de um homem. Também não é que, raiado o novo século, tenha raiado junto o sol da liberdade e todas tenham invadido as ruas em triunfo. Tratou-se antes de um processo, em que a cada década se ganhava algum espaço. Ainda assim era um avanço. E se a tendência, como outras de que vimos falando, era mundial, na cidade de São Paulo, onde as mulheres até havia pouco viviam trancafiadas em casas protegidas por janelas de rótulas, era nada menos do que um choque. A liberdade de sair às ruas representava conquista maior para as mulheres de classe alta. Para as operárias e comerciárias, ir e vir do trabalho era um imperativo incontornável, que anulava as restrições ao ir e vir impostas pelos tabus vigentes. Na verdade boa parte da “vida moderna” era uma construção da e para a classe abastada. Modernidade era para quem podia, não para quem queria, e com ela o próprio desenho da urbe tomava feição mais segregada do que em períodos anteriores. O Triângulo, onde antes os casarões da rua de São Bento estavam a um quarteirão dos prostíbulos da Líbero Badaró, era agora a sede de um comércio elegante que expulsava os despreparados para gozá-lo. Nos bairros ricos de Campos Elíseos e Higienópolis só na condição de empregados circulavam pessoas do lado mais ingrato da contradição social.

    As bicicletas fizeram sua aparição na última década do século XIX, trazidas da França pelas famílias abastadas, e em pouco tempo viraram outra mania. “Todo mundo começou a pedalar; até mesmo respeitáveis damas e circunspectos cavalheiros, habituados à cartola e à indispensável sobrecasaca”, anota um observador do período.23 Um dos entusiastas era Antônio Prado Júnior, o segundo filho homem do conselheiro, que a vida inteira será identificado aos esportes. No começo ele e os amigos pedalavam pelas alamedas da Chácara do Carvalho. O passo seguinte foi convencer o pai a construir uma pista mais adequada. O local escolhido foi a chácara da família na Consolação onde morara dona Veridiana, a avó de Antônio Júnior, antes de se mudar para Higienópolis. Ali nasceu, em 1896, o Velódromo Paulista, destinado a fazer época. Ficava nas vizinhanças da igreja da Consolação, no local onde mais tarde seria aberta a rua Nestor Pestana. Alfredo Moreira Pinto descreveu-o tal qual se apresentava em 1900: “Funciona à rua da Consolação, em frente da rua Araújo, no meio de um vasto jardim. Destina-se a corridas de bicycletes. Tem uma raia de 380 metros de extensão sobre oito de largura, onde correm os bicycletistas, e uma elegante arquibancada de setenta metros de comprimento sobre oito de largura para oitocentos espectadores. Na frente da arquibancada fica um vasto passeio para 2 mil pessoas, com corrimãos de ferro sustentados por colunas. A um dos lados ficam os compartimentos do jogo das poules, seguindo-se a estes um outro fechado com cinquenta camarotes para os corredores. Dentro do estabelecimento ficam a oficina mecânica para a reparação das bicycletes e o buffet.”24 Vélódromo, rua da Consolação, 1901 | Centro Pró-Memória do Caps.

    Com os primeiros 6 mil réis arrecadados os corintianos compraram sua primeira bola — numa loja da rua São Caetano — e o primeiro jogo ocorreu no dia 10 de setembro — perderam para o União da Lapa por 1 a 0. Nos

    E de que se compunha a assistência nos jogos de futebol? De mulheres, inclusive. Não nesse início, em que o frontão e o ciclismo ainda dominavam a preferência das pessoas, mas na década seguinte o futebol já atraía bom público — e nesse público se incluíam as mulheres. Anotou a revista S. Paulo Ilustrado: “É uma delícia ver-se, no pitoresco parque Antártica ou nas vastas bancadas do Velódromo, uma fileira inteira de senhoras, em finas e apuradas toilettes de verão, a agitar-se na emoção frenética do jogo, bater palmas sonoras para aplaudir um goal, olhar com franca simpatia para os foot-ballers, ou acompanhar com olhos ávidos, quase febris à força de intensidade emocional, a esfera de couro que subiu ao ar sob o impulso de um shoot.”31

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