Desligo o telefone e tento processar sonho, notícia, mas não consigo. Sentir nada. Fico estática. Olho para a jarra e vejo os botões murchando, flores que nunca se abrirão, nunca mais. Daquelas já abertas despencam pétalas, uma, duas, oito, conto ? analisando perdas e danos. As que resistem me olham em desafio, exalando esse perfume que não distingo mais do meu. Corro para o espelho ?meus olhos também estão pequenos, ferinos, como essas pequenas estrelas que guardam um mistério podre em seu núcleo. Intuitivamente tiro toda a roupa e me enfio num banho, esfrego a pele até arranhá-la mas não consigo me ver livre desse odor, dessas pétalas, das promessas desses botões que murcham. Não consigo me livrar porque a seiva já corre aqui dentro como sangue, nutrindo órgãos e cabelos que caem pelo azulejo azul do box em teias labirínticas de aranha.
Angélica
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