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    As dez mil coisas (Poesia brasileira contemporânea Livro 1)

    Por Elizabeth Lorenzotti

    Sobre

    Entre outras qualidades da poesia de Elizabeth Lorenzotti, impressiona a simplicidade que confere ao mais complexo; a facilidade aparente do que é mais difícil; o talento para evidenciar o não-dito, valendo-se da força das entrelinhas. O que é despertado por cenas da vida urbana em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Tejo, em Berlim e em Westminster, por praias não-nomeadas corresponde a pretextos ? pré-textos ? para iluminações profanas, epifanias que recebem um registro apurado, preciso em sua ambivalência e no que tem de sugestivo.
    Em ?Por quem os sinos dobram??, sobre Roberto Piva e Wesley Duke Lee, o poeta e o artista plástico que então chegavam ao fim (pouco depois faleceriam), desaparece a delimitação entre poema e crônica. A evocação de encontros poderia suscitar toda sorte de derramamento emotivo; mas basta a frase precisa, o registro direto, que em outro contexto seria jornalística ? e que continua a sê-lo, sem deixar de ser poética.
    Este conjunto de poemas, se oscila entre o poético e o prosaico, não os confunde, mas supera essa distinção, ultrapassa a fronteira entre modos de expressar-se. Um concerto sinfônico de Brahms na Sala Cecília Meirelles, ainda mais com o título ?Aimez-vous Brahms?? ? um poeta mais ingênuo, ou com uma sensibilidade menos apurada desfiaria chavões para transmitir a experiência do sublime. Já a autora de ?As dez mil coisas? evoca o ?Allegro ma non troppo poderoso / demais para a pequena Cecília /a explodir os poros de todos os tijolos?: condensação, um perfeito correlato objetivo do monumento musical e do que sua audição suscita.
    A epígrafe do livro é reveladora: trata do uno e do múltiplo, o ?um? e as ?dez mil coisas?. É o Aleph borgeano, com a diversidade do mundo condensada em um impossível ponto ? impossível, porém manifesta no poema; não representada, mas tornado presente. E como a poeta transita bem de um a outro desses planos, do todo e das partes, do macrocosmo e do microcosmo, da extensão e do ponto, da temporalidade e do instante, do subjetivo e objetivo, da emoção e reflexão.
    Uma série de fragmentos registra a diversidade do mundo em ?Rio, 40?; mas a síntese é a manifestação do belo. Esse poema pode ser confrontado, em uma leitura cruzada, com ?Criado-mudo?. Em um deles, todas as impressões suscitadas pelo Rio de Janeiro condensam-se em um ponto. No outro, tudo o que existe pode caber no móvel de cabeceira. Isso também vale para o minimalismo de ?há de ter a maresia? (lembrando que a maresia é a condensação do úmido): o final aberto mostra que tudo pode acontecer; tudo pode estar contido no momento, no fragmento.
    E assim Elizabeth Lorenzotti dialoga com as principais correntes da poesia contemporânea brasileira. É, de modo evidente, leitora de Manuel Bandeira; dialoga com um surrealista como Roberto Piva; mas resiste à classificação em escolas e movimentos: é plural e mantém sua singularidade.
    Já foi dito que poesia é sedução. Elizabeth Lorenzotti o sabe e proclama com ênfase, na
    abertura deste livro. Leitores responderão a seu convite.
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