Para Carlos Drummond de Andrade, ?romance é a arte de destelhar casas sem que os transeuntes percebam?. Para o francês Marcel Proust, que viveu intensamente à Sombra das Raparigas em Flor, ?não podemos ler um romance sem emprestar à heroína os traços da mulher que amamos?. A primeira definição sugere que escrever romances exige excepcionais qualidades de seus autores. No que diz respeito à segunda, seria uma tentativa de explicar situações relacionadas com a psicologia dos leitores de romances.
Lúcia Martins, ficcionista de largos horizontes, já mostrou sobejamente a sua capacidade de ?destelhar casas? sem que ninguém perceba. NADA DE NOVO SOB O SOL, publicado em 1967 pelas Edições Clã e reeditado em 1996 pelo Programa Editorial da Casa de José de Alencar, e agora em versão digital na Amazon, constitui sua primeira e vitoriosa experiência nos domínios do romance contemporâneo. É deste modo que Rachel de Queiroz se refere à protagonista do romance de Lúcia Martins: ?Naquele sertão bravio do alto Jaguaribe, ainda hoje tão agreste para o homem que o habita, ela atravessa a sua existência agitada de dramas, enfrentando lances que se podem chamar de heroicos?.
A partir desse livro, Lúcia Martins conquistava o direito e o privilégio de compartilhar da convivência estética daquele grupo de ficcionistas que, pelo arrojo e pelo talento, implantaram e consolidaram as matrizes do romance nordestino. Trata-se de escritores considerados pelo público e pela crítica como figuras exponenciais da geração de 30.
Neste seu novo romance DESTINOS CRUZADOS - Lúcia Martins envereda pelas múltiplas vertentes e alternativas da ficção urbana, com todo o seu cortejo de problemas sociais e de conflitos morais. A vida nas grandes metrópoles modernas, as seduções do cosmopolitismo. o fascínio dos amores proibidos e o inevitável entrechoque de gerações - tudo isso engrossa o caldo de cultura em que germinam e proliferam os grandes dilemas morais do nosso tempo.
É nessa atmosfera impregnada de sentimentos os mais contraditórios que Lúcia Martins relata as peripécias de dois namorados no Rio de Janeiro, os desencontros e desconcertos que acontecem entre jovens apaixonados, que, paradoxalmente, são felizes porque ignoram o axioma camoniano segundo o qual o ?Amor é um fogo que arde sem se ver?. A romancista incorpora às suas narrativas as perplexidades e inquietações decorrentes da convivência diuturna das pessoas com o brilho ilusório dos mitos urbanos, os quais, com o passar do tempo, acabam por se transformar numa espécie de segunda natureza.
Numa obra de aproximadamente 400 páginas, a Autora demonstra singular capacidade de conduzir as ações de seus personagens, de tal forma que as suas existências e problemas virtuais conquistam a credibilidade do leitor.
As numerosas criaturas que trafegam nas páginas deste romance de Lúcia Martins são imprevisíveis e contraditórias como qualquer dos figurantes que contracenam conosco nos palcos e picadeiros da vida real.
O enredo deste romance, o eixo em torno do qual se desenvolvem as grandes linhas da narrativa ficcional, são dois jovens com as mesmas incertezas e contradições daqueles que se deixam enfeitiçar pelas armadilhas traiçoeiras do amor. Falar de amor é o mesmo que falar de serpente. E aí não há como fugir da sábia advertência do Eclesiastes: ?Se a serpente morde por erro de encantamento, não vale a pena ser encantador? (10.11).
Numa época de efusões amorosas por computador, de paixões turbulentas e nada ortodoxas, este novo romance de Lúcia Martins nos remete para um tempo mais rico de valores humanos e para uma realidade social de consequências menos traumáticas O mais importante é saber que ela nos conta uma história de namorados que poderiam ter sido contemporâneos de Balzac ou de Tchekhov. Uma história em que forma e conteúdo estão a serviço das eternas esquivanças do amor.
FRANCISCO CARVALHO
Lúcia Martins, ficcionista de largos horizontes, já mostrou sobejamente a sua capacidade de ?destelhar casas? sem que ninguém perceba. NADA DE NOVO SOB O SOL, publicado em 1967 pelas Edições Clã e reeditado em 1996 pelo Programa Editorial da Casa de José de Alencar, e agora em versão digital na Amazon, constitui sua primeira e vitoriosa experiência nos domínios do romance contemporâneo. É deste modo que Rachel de Queiroz se refere à protagonista do romance de Lúcia Martins: ?Naquele sertão bravio do alto Jaguaribe, ainda hoje tão agreste para o homem que o habita, ela atravessa a sua existência agitada de dramas, enfrentando lances que se podem chamar de heroicos?.
A partir desse livro, Lúcia Martins conquistava o direito e o privilégio de compartilhar da convivência estética daquele grupo de ficcionistas que, pelo arrojo e pelo talento, implantaram e consolidaram as matrizes do romance nordestino. Trata-se de escritores considerados pelo público e pela crítica como figuras exponenciais da geração de 30.
Neste seu novo romance DESTINOS CRUZADOS - Lúcia Martins envereda pelas múltiplas vertentes e alternativas da ficção urbana, com todo o seu cortejo de problemas sociais e de conflitos morais. A vida nas grandes metrópoles modernas, as seduções do cosmopolitismo. o fascínio dos amores proibidos e o inevitável entrechoque de gerações - tudo isso engrossa o caldo de cultura em que germinam e proliferam os grandes dilemas morais do nosso tempo.
É nessa atmosfera impregnada de sentimentos os mais contraditórios que Lúcia Martins relata as peripécias de dois namorados no Rio de Janeiro, os desencontros e desconcertos que acontecem entre jovens apaixonados, que, paradoxalmente, são felizes porque ignoram o axioma camoniano segundo o qual o ?Amor é um fogo que arde sem se ver?. A romancista incorpora às suas narrativas as perplexidades e inquietações decorrentes da convivência diuturna das pessoas com o brilho ilusório dos mitos urbanos, os quais, com o passar do tempo, acabam por se transformar numa espécie de segunda natureza.
Numa obra de aproximadamente 400 páginas, a Autora demonstra singular capacidade de conduzir as ações de seus personagens, de tal forma que as suas existências e problemas virtuais conquistam a credibilidade do leitor.
As numerosas criaturas que trafegam nas páginas deste romance de Lúcia Martins são imprevisíveis e contraditórias como qualquer dos figurantes que contracenam conosco nos palcos e picadeiros da vida real.
O enredo deste romance, o eixo em torno do qual se desenvolvem as grandes linhas da narrativa ficcional, são dois jovens com as mesmas incertezas e contradições daqueles que se deixam enfeitiçar pelas armadilhas traiçoeiras do amor. Falar de amor é o mesmo que falar de serpente. E aí não há como fugir da sábia advertência do Eclesiastes: ?Se a serpente morde por erro de encantamento, não vale a pena ser encantador? (10.11).
Numa época de efusões amorosas por computador, de paixões turbulentas e nada ortodoxas, este novo romance de Lúcia Martins nos remete para um tempo mais rico de valores humanos e para uma realidade social de consequências menos traumáticas O mais importante é saber que ela nos conta uma história de namorados que poderiam ter sido contemporâneos de Balzac ou de Tchekhov. Uma história em que forma e conteúdo estão a serviço das eternas esquivanças do amor.
FRANCISCO CARVALHO