Grisalha: Poeira e poder do tempo (YMAGO ensaios breves Livro 1)
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Uso o termo fatal para sugerir desde logo a acção e o poder do tempo sobre a cor das coisas. Uma coisa pintada em grisalha está pintada de acordo com a ficção de uma cor passada, um modo de referir a descoloração, mas também de dizer que o tempo passou por essa coisa como um sopro, como um vento que a esmaeceu.
Quatro séculos mais tarde, Paul Klee fará do célebre «ponto cinzento» – como ele o denominava – o «ponto fatídico entre o que muda e o que morre»:[9] noção «cosmogenética» que reúne em si a essência do chrôma (a cor) e do chronos (o tempo).
Lucrécio dizia já que esta descoloração se situa a meio caminho entre a visibilidade e a invisibilidade.
Eis-nos bem no âmago do problema. É um crepúsculo do visível que revela a dimensão visual da grisalha: material como uma poeira, psíquica como uma obsessão.
A grisalha seria para as cores do mundo o mesmo que a poeira para a consistência dos objetos.