"Saio, desço algumas ruas, mergulho no abismo de gente que se empurra à entrada dos bares, um outro mundo à esquina da podridão da minha casa. Caminho, tentando desembaraçar-me do peso do tempo. Vou ter com Maria, penso, mas sei que é inútil, a esta hora os putos dormem no quarto acanhado e o marido já está sobre ela, gemendo e borrando-se de prazer. A cena nem sequer tem o condão de me enjoar. Houve um momento em que só a ideia de outro a deitar-se sobre ela fazia o meu corpo estremecer com violência e eis uma náusea que quase me levava ao vómito. O pasmo inicial da criança virgem deu lugar ao vazio, e nesse vazio reconheço o lugar exacto de cada coisa no seu sítio. Perdida a virgindade, a minha, Maria ficou reduzida ao seu papel nesse acto, nem sequer me foi permitida a ilusão de algo mais e a ela a dignidade de ser outra coisa além da mulher com quem me deito.
Entro num bar, encosto-me ao balcão. Bebo um vodka e depois outro, que me rasgam as entranhas e me baralham o cérebro. Sou o único ser humano sozinho neste espaço. Finjo que me estou nas tintas, mas falta-me o ar."
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Entro num bar, encosto-me ao balcão. Bebo um vodka e depois outro, que me rasgam as entranhas e me baralham o cérebro. Sou o único ser humano sozinho neste espaço. Finjo que me estou nas tintas, mas falta-me o ar."
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