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    Meu quintal é maior do que o mundo: Antologia

    Por Manoel de Barros
    Existem 11 citações disponíveis para Meu quintal é maior do que o mundo: Antologia

    Sobre

    ?Manoel fecha os olhos e inventa uma cor que não existe, coisa que só gente como Homero sabia fazer.? Fausto Wolff

    Antologia dos poemas mais emblemáticos do poeta Manoel de Barros publicados ao longo de setenta anos.

    Manoel de Barros é um dos poetas mais originais de nosso tempo. Sua obra inaugura um estilo único, que transforma a natureza, os objetos e a própria condição humana em expressões poéticas carregadas de significado e emoção. Esta antologia inédita reúne poemas de todas as fases do escritor, oferecendo um panorama abrangente de sua produção literária. Em mais de setenta anos de ofício, Manoel redesenhou os limites da linguagem e seus sentidos.
    Meu quintal é maior do que o mundo recolhe poemas publicados por Manoel de Barros ao longo de mais de setenta anos. Recortar a obra desse poeta não é tarefa fácil, já que ela assume muitas formas, e se move como as águas do Pantanal. O problema desta e de qualquer seleção ou recorte da obra de Manoel de Barros, é, então, este: não se pode cercar a água. Nem com arame farpado
    Embora fosse um erudito, Manoel de Barros preferia ocultar-se atrás de diversas máscaras, inclusive a da ignorãça, como ele grafava, à antiga. Numa de suas entrevistas, ele assim se define: ?O poeta não é obrigatoriamente um intelectual; mas é necessariamente um sensual.? É esse sensualismo poético que lhe dá a feição genuína, e lhe permite, como ele ainda define, ?encostar o Verbo na natureza?. Talvez nenhum outro poeta tenha tido uma relação tão intensa com ela. Por isso mesmo, a obra de Manoel de Barros foi escrita para o futuro. Meu quintal é maior do que o mundo revela a força, a vitalidade e o alcance universal da obra deste poeta inimitável.
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    Citações de Meu quintal é maior do que o mundo: Antologia

    Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas. As palavras continuam com os seus deslimites.

    Passei anos me procurando por lugares nenhuns. Até que não me achei — e fui salvo.

    (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?)

    Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para poesia O homem que possui um pente e uma árvore serve para poesia Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que nele gorjeiam: detritos semoventes, latas servem para poesia Um chevrolé gosmento Coleção de besouros abstêmios O bule de Braque sem boca são bons para poesia As coisas que não levam a nada têm grande importância Cada coisa ordinária é um elemento de estima Cada coisa sem préstimo tem seu lugar na poesia ou na geral O que se encontra em ninho de joão-ferreira: caco de vidro, garampos, retratos de formatura, servem demais para poesia As coisas que não pretendem, como por exemplo: pedras que cheiram água, homens que atravessam períodos de árvore, se prestam para poesia Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para poesia As coisas que os líquenes comem — sapatos, adjetivos — têm muita importância para os pulmões da poesia Tudo aquilo que a nossa civilização rejeita, pisa e mija em cima, serve para poesia Os loucos de água e estandarte servem demais O traste é ótimo O pobre-diabo é colosso Tudo que explique o alicate cremoso e o lodo das estrelas serve demais da conta Pessoas desimportantes dão pra poesia qualquer pessoa ou escada Tudo que explique a lagartixa da esteira e a laminação de sabiás é muito importante para a poesia O que é bom para o lixo é bom para a poesia Importante sobremaneira é a palavra repositório; a palavra repositório eu conheço bem: tem muitas repercussões como um algibe entupido de silêncio sabe a destroços As coisas jogadas fora têm grande importância — como um homem jogado fora Aliás é também objeto de poesia saber qual o período médio que um homem jogado fora pode permanecer na terra sem nascerem em sua boca as raízes da escória As coisas sem importância são bens de poesia Pois é assim que um chevrolé gosmento chega ao poema, e as andorinhas

    Tudo aquilo que a nossa civilização rejeita, pisa e mija em cima, serve para poesia

    Como estou só: Afago casas tortas, Falo com o mar na rua suja… Nu e liberto levo o vento No ombro de losangos amarelos. Ser menino aos trinta anos, que desgraça Nesta borda de mar de Botafogo! Que vontade de chorar pelos mendigos! Que vontade de voltar para a fazenda! Por que deixam um menino que é do mato Amar o mar com tanta violência?

    DESPALAVRA Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra. Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades humanas. Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de pássaros. Daqui vem que todas as pedras podem ter qualidades de sapo. Daqui vem que todos os poetas podem ter qualidades de árvore. Daqui vem que os poetas podem arborizar os pássaros. Daqui vem que todos os poetas podem humanizar as águas. Daqui vem que os poetas devem aumentar o mundo com as suas metáforas. Que os poetas podem ser pré-coisas, pré-vermes, podem ser pré-musgos. Daqui vem que os poetas podem compreender o mundo sem conceitos. Que os poetas podem refazer o mundo por imagens, por eflúvios, por afeto.

    O FOTÓGRAFO Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto: Madrugada a minha aldeia estava morta. Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã. Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado. Fotografei esse carregador. Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre. Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça. Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski — seu criador. Fotografei a Nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva. A foto saiu legal.

    O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

    Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira.

    AUTORRETRATO FALADO Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz. Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo. Descobri que todos os caminhos levam à ignorância. Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma

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