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    Nada de Novo Sob o Sol: Romance

    Por Lúcia Martins

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    Francamente, já era tempo de aparecer uma reação, no romance brasileiro, àquele tipo de literatura que certa amiga minha chama de ?vegeto-contemplativo?. Quer dizer, àquelas eternas histórias do moço da cidade que vai para o interior convalescer de congestão pulmonar (também pode ir cumprindo uma nomeação de promotor) e lá se anquilosa no marasmo provinciano; ou os casos do moço de interior que vem estudar ou cavar a vida na cidade grande e nunca se entende direito com a cidade, nessa porfia; e acabam ambos, praciano na roça ou roceiro na praça, como dois vencidos da vida.
    Sim, precisava a gente voltar ao velho romance ?de ação?, ao romance onde acontecem coisas. O romance que a imaginação popular ainda conserva como padrão no gênero, aquele que ainda está na linguagem de todos: ?Ah, a minha vida parece um romance!? no sentido de que nela aconteceram coisas invulgares e admiráveis, coisas que não sucedem na vida comum, ?coisas de romance?.
    Pois justamente neste ?Nada De Novo Sob o Sol?: de Sandra Lacerda (pseudônimo de Lúcia Martins), nós vamos encontrar esse elemento faltoso nos outros, a ação. Romance ?romanesco?, romance com personagens, sucessos, circunstâncias, fora do signo do tédio, da banalidade, do, aceitação passiva do cotidiano. Esta é uma história ?diferente?, nervosa, movimentada, quer no tempo quer no espaço e, dentro deles, movimentando os personagens. ?Pequenina?, narradora e protagonista do romance, não direi contudo, que seja uma novidade da nossa literatura regional; ela tem predecessoras ou parentes próximas em D. Guidinha do Poço, em Luzia Homem etc. Mas, principalmente, tem muito das matronas da vida real, que podem ter sido tua avó ou minha avó, leitor. Mulheres fortes do ciclo pastoril, matronas varonis que enfrentavam guerra, enchentes, seca, bandidos, que chegavam a dar à luz no mato à sombra de um juazeiro, que defendiam a casa e a família de armas na mão. Mulheres como as vem estudando Nertan Macedo na sua admirável série de livros de sociologia e história sertaneja (?Memorial de Vila Nova?, ?Clã dos Inhamuns?, ?Bacamarte dos Mourões?, ?Clã de Santa Quitéria?), mulheres cuja figura clássica é a heroína D. Bárbara de Alencar. Em cada velha família do Nordeste há a tradição de uma figura de mulher assim ? casada quase criança, mãe de prole numerosa, às vezes de agitada vida sentimental, e a quem a viuvez ou a ausência do marido põe em evidência a forte personalidade e a capacidade de ação.
    Pequenina (ninguém se iluda com esse diminutivo mimoso, elas gostavam desses apelidos assim), Pequenina está na linha dessa tradição matriarcal. Naquele sertão bravio do alto Jaguaribe, ainda hoje tão agreste para o homem que o habita, ela atravessa a sua existência agitada de dramas, enfrentando lances que até se podem chamar de heroicos. E o curioso é que, senão o livro tão ?romanesco?, no sentido tradicional da palavra, obra de pura imaginação, tenha na verdade relativamente pouco de ?invenção?; pois se não é uma história ?acontecida?, é uma história plausível, quer no ambiente, quer no tempo.
    História forte, áspera, que o observador superficial não imaginaria escrita por mão de mulher. Mas como se engana quem só associa à marca de mulher a fragilidade e a dependência! Essas duras pioneiras, como Pequenina, são bem mulheres ? e quanto! E todos os acontecimentos que Pequenina conta, na sua saga tormentosa, são vistos e narrados sempre de um ângulo puramente feminino.
    Rigorosamente, este livro não carecia de prefácio. Ele tem força bastante para abrir por si caminho próprio, e por seus méritos conquistar o leitor.
    RACHEL DE QUEIROZ
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