O amigo Fritz
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há gente tão maldosa, e sobretudo as velhas, que tanto se inquietam com o que lhes não diz respeito!
Kobus — interrompeu Haan, — conhecemos-te há muito tempo, não é a nós que é preciso fazer acreditar. Mas voltando ao que dizias há pouco, é desgraçadamente verdade que aquela vida de cervejaria pode-nos proporcionar um mau bocado. Se se veem tantos homens gordos antes da idade, asmáticos, inchados, e esfalfados, gotosos, diabéticos, hidrópicos às centenas, isso provém da cerveja de Frankfurt, de Estrasburgo, de Munique, ou de qualquer outra parte; porque a cerveja contém muita água, torna o estômago preguiçoso, e quando o estômago está preguiçoso, todos os membros se tornam assim.
— Certamente, sr. Speck, certamente — respondeu Haan, — quando se quer engordar o gado, faz-se-lhe beber água com sêmeas: se lhe fizessem beber vinho nunca engordaria. Mas, além disso, o que é preciso ao homem é movimento; o movimento entretém as nossas articulações em bom estado, de sorte que se não assemelham a esses carros que chiam cada vez que as rodas giram: coisa muito desagradável. Os nossos antepassados, dotados de uma grande previdência, para evitar esse inconveniente, tinham o jogo da bola, os mastros ensebados, as corridas com sacos, a patinagem, sem contar a dança, a caça e a pesca; agora prevalecem os jogos de cartas de toda a sorte, eis porque a espécie degenera.
É bem verdade, sr. Haan — disse então o professor Speck, — vale mais beber duas garrafas de bom vinho, do que uma só caneca de cerveja; contém menos água, e, por conseguinte, deposita menos areias na bexiga, todos sabem isto; e por outro lado, a gordura resulta igualmente da água. O homem que não bebe senão vinho tem, pois, a sorte de ficar magro por muito tempo, e a magreza não é tão difícil de aguentar como a obesidade.
Sim, é deplorável — exclamou Fritz esvaziando o copo, — deplorável! Recordo-me de que, na minha infância, todos os bons burgueses iam às festas da aldeia com as suas mulheres e os filhos; agora sepultam-se nas suas casas, é um acontecimento quando saem da cidade. Nas festas de aldeia, cantava-se, dançava-se, atirava-se ao alvo, mudava-se de ares; também os nossos antepassados viviam cem anos; tinham as orelhas vermelhas e não conheciam as enfermidades da velhice. Que pena que todas essas festas estejam abandonadas!
Ah! Isso — replicou Haan, — resulta da extensão das vias de comunicação. Antigamente quando as estradas eram raras, quando não existiam caminhos distritais, não se viam circular tantos caixeiros viajantes a oferecer em cada aldeia, uns a sua pimenta e a sua canela, outros as suas escovas, outros os tecidos de toda a espécie. Não havia à nossa porta o tendeiro, o quinquilheiro, o mercador. Todas as famílias esperavam tal festa para fazer as provisões da casa. As festas também eram mais ricas e mais bonitas; os comerciantes, certos de venderem, chegavam de muito longe. Era bom tempo o das feiras de Frankfurt, de Leipzig, de Hamburgo, na Alemanha; de Liège e de Gand, nas Flandres, de Beaucaire, em França. Hoje, a feira é perpétua, e até nas nossas mais pequenas aldeia se encontra de tudo. Cada coisa tem o seu lado bom e o seu lado mau; podemos ter saudades das corridas dos sacos e do tiro ao carneiro, sem vociferar contra os progressos naturais do comércio. — Tudo isso não impede de sermos uns burros, apodrecendo sempre no mesmo lugar — replicou Fritz, — quando nos poderíamos divertir, beber bom vinho, dançar, rir e galhofar de todas as maneiras. Se fosse preciso ir a Beaucaire ou às Flandres, poder-se-ia achar um pouco longe; mas quando se tem muito perto festas agradáveis, e perfeitamente nos antigos costumes, parece-me que se fazia bem em lá ir. — Onde? — perguntou Haan. — A Hartzwiller, a Rorbach, a Klingenthal. Olhem, sem ir mais longe, lembro-me de que meu pai me levava todos os anos à festa de Bischem, e havia lá pastéis deliciosos… deliciosos! Haan olhava-o estupefacto. — E comiam-se camarões grossos como punhos — prosseguiu ele, — camarões ainda melhores que os do Losser e bebia-se um vinhinho branco muito… muito regular; não era johannisberg, nem steinberg, com certeza, mas era de alegrar o coração!
o velho rebbe tinha tido razão de dizer: «que fora do amor tudo é vaidade; que nada existe de comparável e que o casamento com a mulher que se ama é o Paraíso na Terra!»
«Meus bem-amados, amemo-nos uns aos outros. Quem ama o próximo, conhece Deus. O que não o ama, não conhece Deus, porque Deus é o amor!»