EditoraKBR

Sacudindo o pó da estrada

Name: Sacudindo o pó da estrada
Author: Antonio Ernesto Martins

Por Antonio Ernesto Martins

Existem 10 citações disponíveis para Sacudindo o pó da estrada

Sobre

O contundente relato autobiográfico de Antonio Ernesto Martins agora em 2ª edição revisada pelo autor. Em um mergulho profundo nos bastidores do consumo e tráfico de drogas, tanto do ponto de vista do viciado como da polícia e dos traficantes, Sacudindo o pó da estrada conta em detalhes e com impressionante realismo como se forma a dependência e como ela vai minando a vida do usuário em todos os aspectos. A luta de Toninho para se liberar do vício tem como pano de fundo o cenário de violência que vai aos poucos tomando conta do Rio de Janeiro a partir do consumo de cocaína por todas as classes sociais, numa prévia da crítica situação que a cidade enfrenta nos dias de hoje. Com apresentação de Luiz Antônio Mello e prefácio de José Louzeiro.

Baixar eBook Link atualizado em 2017
Talvez você seja redirecionado para outro site

Definido como

Listados nas coleções

Biografias

Por mais estranho que isso fosse, sentia-se mais realizado com a incursão bem-sucedida na boca de fumo do que propriamente com os efeitos do princípio ativo da marijuana.

A maconha nem de longe lhe acenava como um hábito possível, que seria repetido regularmente. Era um encontro casual e despretensioso, mais uma brincadeira interessante e instigadora, uma curtição.

Toninho se correspondia raramente com Antonio em Portugal, e as respostas do pai vinham com a mesma raridade. Eram palavras econômicas e formais, um afeto tímido, mas que resumia o único laço que Antonio ainda mantinha vivo com sua família. Paula havia se posicionado claramente ao lado da mãe na questão da separação, levada principalmente pelo fato de ter presenciado várias desavenças violentas e ver a mãe derramar lágrimas sofridas. Esse posicionamento tendencioso criou o primeiro grande conflito de personalidades entre ela e o irmão, que, apesar de ter convivido com o jeito rude de Antonio e sofrido na pele seus efeitos, optava pela imparcialidade, embora reconhecesse como legítimas as razões de Aurélia.

Enquanto isso, Aurélia continuava sua luta pelo sustento da casa vendendo roupas, cosméticos e trabalhos manuais. Mulher dinâmica e lutadora, vencia o estigma da separação com muita honestidade e coragem.

E não eram boas notícias. Davam conta de que Antonio estava bebendo muito e sua saúde não andava bem. Para completar, o restaurante aberto em sociedade com o tio Albino, também caminhava para uma situação financeira preocupante.

Enquanto descia no elevador pensava na anã e sua namorada, na varanda e nas trilhas de cocaína, no videocassete e na máscara do assassino Michael Myers. Mas sua preocupação principal era descansar para estar inteiro à noite, na estreia da sua peça.

Naquela manhã de uma quinta-feira, 11 de outubro de 1979, Toninho tentava organizar em sua cabeça cansada as muitas sensações que havia experimentado no apartamento.

Toninho se deitou na cama de casal lendo um jornal, enquanto esperava Sílvia. A menina, acanhada, entrou no quarto para trocar de roupa. Obrigou o namorado a prometer não olhar para seu corpo nu. Toninho concordou, mas disfarçadamente rasgou com os dedos um buraco no jornal e por ele passou a observar a menina que trocava o jeans e a blusa por uma camisola.