Os tijolos estão alaranjados — disse. — É surpreendente, Teresa — afirmou, virando na mesma direção que eu —, que seja capaz de olhar mais além. Só quero que observe o céu. — Azul. — O que acontece com você, senhorita Teresa? Olhe bem… Azul é a primeira cor que vemos; o branco também aparece, toque o turquesa, aprecie o anil, o rosa, o amarelo, um violeta, algo de vermelho, outro azul, mais forte, mais delicado, um marinho quando se choca com as chaminés, cerúleo lá, um índigo claríssimo ao se perder ao fundo, o violeta outra vez… Olhei como o velho pintor depurava cuidadosamente o céu. Ele ofegou. — Não desista, senhorita Teresa — incentivou ele, me encarando —, não relaxe. É difícil ver, mas, às vezes, tudo está à mostra mais do que podemos perceber. O que podemos fazer? — perguntou, com entusiasmo. — Você precisa aprender a ver. As pessoas não sabem ver, andam pela rua e cruzam umas com as outras, correndo os olhos por semáforos, mesas, pisos mal-encaixados. Os toldos se abrem sobre nós quando o sol queima, desenhando sombras no chão às vezes sutis; as folhas das árvores em que se apoiam as lixeiras formam desenhos, folhas que são marrons, beges, tostadas, cor de baunilha… O asfalto não é negro, tem um tom azul siena às vezes, outras, cinza-azulado, acinzentado, inclusive. Olhe para isso. Os pórticos criam universos dentro e fora, o vermelho do seu casaco é magenta às vezes, outras é ameixa, cereja, pêssego maduro… Varia, as cores vão mudando aqui e ali; quando nos movemos, tudo se modifica. As cores são singulares em si mesmas, assim como o cinza e o preto que você tanto detesta. A