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    Zero Zero Zero

    Por Roberto Saviano
    Existem 15 citações disponíveis para Zero Zero Zero

    Sobre

    Não há mercado tão rentável quanto o da cocaína. Nem investimento financeiro de retorno mais rápido. A partir dessa constatação aterradora, Roberto Saviano mapeia o tráfico internacional da droga, mostra quem são seus personagens e revela suas conexões com a economia formal e o mercado financeiro.


    Zero Zero Zero é a mais fina, pura e cara farinha de trigo, bem como a gíria pela qual os traficantes europeus se referem à cocaína de melhor qualidade. Em seu livro mais recente, Roberto Saviano traça um painel impressionante de como o pó branco liga as principais praças comerciais do mundo e impõe suas tenebrosas regras, seus códigos morais e exércitos, direta ou indiretamente, a todos nós.

    Da Calábria ao México, da selva colombiana à Rússia, do Brasil às ruas de Londres e Milão, o premiadíssimo escritor italiano revela os segredos internos e as conexões deste que é possivelmente o mais lucrativo dos mercados globais, e demonstra o fato terrível de que ninguém escapa de seus tentáculos.

    Ameaçado de morte depois de sua reportagem de fôlego sobre a máfia napolitana, a Camorra (livro posteriormente adaptado, com grande sucesso de bilheteria, para o cinema), Saviano vive há mais de oito anos em endereço desconhecido, sob vigilância cerrada, 24 horas por dia. Nesse período, ganhou intimidade com as polícias e agências de inteligência ao redor do mundo, que lhe franquearam acesso a informações privilegiadas para a redação de Zero Zero Zero. O resultado é não só uma radiografia da ?grande corporação? da droga como uma reflexão profunda sobre a eficácia de um combate inglório a esse produto de demanda incessante.


    ?Saviano é um herói nacional.? - Umberto Eco
    ?Saviano pagou mais caro que eu por seus livros: a fatwa da Camorra é mais perigosa que a de Khomeini.? - Salman Rushdie
    ?O sonho de qualquer jovem jornalista de garra deve parecer bastante com o perfil de Roberto Saviano.? - El País
    ?A genialidade de Saviano foi mostrar como a máfia se aproveitou da globalização.? - The Guardian
    ?Saviano é um ícone da luta contra as organizações criminosas.? - Folha de S. Paulo

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    Citações de Zero Zero Zero

    O que vivemos hoje, a economia que regula nossas vidas e nossas escolhas, é mais determinado pelo que Félix Gallardo “El Padrino” e Pablo Escobar “El Mágico” decidiram e fizeram nos anos 1980 do que pelo que decidiram e fizeram Reagan e Gorbatchóv.

    Mas nos últimos anos, junto com a economia brasileira e os salários da classe média emergente, o consumo de cocaína também aumentou, levando o país para o segundo lugar no ranking dos maiores consumidores da droga no mundo, atrás dos Estados Unidos, que detêm o primeiro lugar.

    Um animal sabe sentir a covardia. O medo, um animal respeita. O medo é o instinto mais vital, o mais respeitável. A covardia é uma opção, o medo, um estado.

    Mas o que a crise não destrói — ao contrário, fortalece — são as economias do crime.

    Os jornalistas começam com a vontade de mudar o mundo e acabam com a vontade de se tornar diretores. É mais fácil condicioná-los do que corrompê-los. Cada um vale por si só e pela Onorata Società.

    A cocaína é a resposta exaustiva à necessidade mais imperativa da época atual: a falta de limites.

    Hoje, Nova York e Londres são as duas grandes lavanderias de dinheiro sujo do mundo. Não mais os paraísos fiscais, as ilhas Cayman ou a Isle of Man. E sim a City de Londres e Wall Street. Segundo as palavras da diretora da Seção Antilavagem do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Jennifer Shasky Calvery, durante uma sessão do Congresso americano em fevereiro de 2012: “Os bancos nos Estados Unidos são usados para receber grandes quantidades de capitais ilícitos, ocultos entre os bilhões de dólares que são transferidos diariamente de um banco a outro”. Os centros do poder financeiro mundial sobreviveram graças ao dinheiro do pó.

    El Chapo tem uma visão clara do seu tempo: o mundo ocidental não tem chance, os direitos estão em contradição com o mercado, portanto, ele entende que os países ocidentais precisam de “territórios” sem leis, sem direitos. O México tem a cocaína, os Estados Unidos têm os consumidores; o México tem a mão de obra barata, os Estados Unidos precisam dela; o México tem soldados, os Estados Unidos têm as armas. O mundo está repleto de infelicidade? Lá vem a resposta: cocaína. El Chapo entendeu isso. E,

    O gigante americano teria auxiliado Salinas nas transações, embaralhando a rastreabilidade do dinheiro. De que maneira? Antes de mais nada, abrindo uma conta na filial de Nova York em nome de Salinas. Através do Cititrust, uma fiduciária sua nas ilhas Cayman, o Citibank montou a sociedade de investimentos Trocca com sede também no paraíso fiscal, para manter o patrimônio de Salinas. Para ocultar ainda mais o nome de Salinas, o Citibank criou outra sociedade, a Tyler, que era a principal acionista da Trocca e, em nome desta última, abriu duas contas de investimentos no Citibank London e no Citibank Switzerland. Além do mais, teria não só dispensado as referências bancárias do cliente e a compilação know your customer, mas também permitira que Raúl Salinas usasse outro nome para realizar as transferências. Nenhum documento americano o identificava como proprietário ou beneficiário da Trocca, nem ligava Salinas ao dinheiro da Trocca transferido do México para Nova York e de lá para Londres e a Suíça.

    o HSBC e seu braço americano, o HBUS, expuseram o sistema financeiro americano a uma grande série de riscos de lavagem, financiamento do narcotráfico e terrorismo. Segundo um relatório da comissão, o HSBC teria usado o HBUS para ligar aos Estados Unidos suas filiais espalhadas pelo mundo, fornecendo a seus clientes serviços em dólares, movimento de capitais, câmbio de moeda e outros instrumentos monetários, sem respeitar plenamente as leis bancárias americanas. Por causa de controles insuficientes, o HBUS teria permitido que o dinheiro do narcotráfico mexicano e do terrorismo entrasse em território americano. Considerando que o HBUS fornece 1200 contas a outros bancos, entre os quais mais de oitenta filiais do HSBC, é fácil entender que tais serviços, sem políticas antilavagem adequadas, podem se converter numa enorme via de entrada de capitais ilícitos nos Estados Unidos.

    Na realidade a Guiné-Bissau, à semelhança dos países com os quais faz fronteira, é aquilo que os narcotraficantes buscam. A África é frágil. A África é ausência de regras. Os traficantes se insinuam nesses enormes vazios, aproveitando-se de instituições capengas e de controles ineficazes nos postos de fronteira. É fácil gerar uma economia paralela e transformar um país pobre num imenso armazém. Um armazém para uma Europa cada vez mais dependente do pó branco. Se a isso acrescentarmos o fato de que aos cidadãos da Guiné-Bissau, em virtude de seu passado colonial, é permitido entrar sem visto em território português, então o país de Mamadu é realmente o centro do mundo.

    A Europa precisa de pó, muito pó. Ele nunca é suficiente. O velho continente se tornou a nova fronteira dos narcos. Entre 20% e 30% da produção mundial de cocaína pura acabam entre nós. De repente a cocaína atraiu uma nova clientela. Sua utilização, que até 2000 se limitava quase exclusivamente a camadas privilegiadas da população, agora se democratizou. Os adolescentes, antes distantes desse tipo de consumo, hoje são a fatia de mercado mais apetecível. Aos traficantes bastou simplesmente diversificar a oferta e inundar o mercado europeu de cocaína, baixando o preço. Hoje um grama de cocaína custa em torno de sessenta euros nas ruas de Paris, contra os cem de uns quinze anos atrás. Segundo o Observatório Europeu das Drogas e das Toxicodependências, cerca de 13 milhões de europeus cheiraram cocaína ao menos uma vez na vida. Entre estes, 7,5 milhões têm entre quinze e 34 anos. No Reino Unido, o número de consumidores de cocaína quadruplicou em dez anos. Na França, a Agência Central para a Repressão do Tráfico Ilícito de Entorpecentes estima que o número de consumidores dobrou entre 2002 e 2006. O mercado já se estabilizou, tem seus consumidores e seus hábitos. A alma do comércio não é a publicidade, é o hábito. É a criação de necessidades, enraizadas a tal ponto nas consciências que já não são consideradas necessidades. Com o hábito do pó, nasceu na Europa um exército silencioso que marcha em fileiras cerradas, despreocupado e resignado, com uma dependência que se tornou costume, quase tradição. A Europa quer o pó, e os traficantes encontram todos os caminhos para fazê-lo chegar até lá.

    A verdade é que não existe alternativa. A cocaína é um combustível. A cocaína é energia devastadora, terrível, mortal. As prisões parecem não bastar nunca. As políticas de combate parecem sempre errar o alvo. Por mais que possa parecer terrível, a legalização total das drogas poderia ser a única resposta. Talvez uma resposta horrenda, horrível, angustiante. Mas a única possível para bloquear tudo. Para deter os faturamentos que se inflam. Para deter a guerra. Ou, pelo menos, é a única resposta que nos ocorre dar quando, no final de tudo, nos perguntamos: e agora, o que fazer?

    A mercadoria é descarregada e transportada até a terra firme, de onde toma o rumo da Europa seguindo três grandes rotas: uma pela via terrestre, que passa pela costa atlântica da Mauritânia e pelo Marrocos, ou então através das trilhas saarianas, antes de subir pela Turquia e alcançar os Bálcãs; a clássica e mais batida via marítima, por meio de frotas comerciais de navios-contêiner privados nos quais são expedidas as grandes quantidades de cocaína; e por fim o tráfico aéreo, particularmente através de correios ou mulas que ingerem as cápsulas cheias de droga.

    a legalização poderia de fato ser a solução. Porque vai golpear justamente onde a cocaína encontra seu terreno fértil, na lei econômica da demanda e da oferta. Reduzindo a demanda, tudo o que está a montante murcharia como uma flor privada de água. É

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